- Resumo
Este artigo tem como objetivo central analisar a obra O Alienista , de Machado de Assis, publicada em 1881. Dividida em 13 capítulos, essa obra, que resistiu ao tempo, segue provocando reflexões críticas sobre a saúde mental. Enquadrada no realismo, sua base está na ciência da época e na forma como foi absorvida pela sociedade. O protagonista, Simão Bacamarte, é um médico recém-chegado a Itaguaí, uma pequena vila fluminense, e nutre uma curiosidade obsessiva pela mente humana, que molda de forma drástica suas interações sociais. Sua dedicação à ciência é tamanha que ele se considera afortunado por não achar sua esposa atraente, evitando, assim, distrações que poderiam afastá-lo de seus estudos. A narrativa, conduzida em terceira pessoa por um narrador onisciente, faz uso de sarcasmo e humor para questionar a linha tênue entre a loucura e a razão, ao mesmo tempo em que tece críticas sociais que evidenciam a fase realista do autor.
Palavras-chave : lucidez, razão, loucura, solidão.
2.Considerações Iniciais
Até que ponto a busca pela ciência na obra O Alienista constitui uma fuga de si? Ao negar seus afetos e se entregar totalmente ao estudo da mente humana, Simão Bacamarte acaba se afastando de sua própria humanidade. O médico, que inicialmente busca compreender os mecanismos do pensamento, transforma-se gradualmente em alguém incapaz de se conectar emocionalmente com os outros. Ele não vê o próximo como indivíduo, mas como objeto de análise. Trago aqui três pontos centrais que guiarão minha análise da obra: a solidão de D. Evarista, o isolamento do Alienista e, sobretudo, a indiferença presente em suas interações comunicativas.
3.Desenvolvimento
Nos trechos a seguir, observamos o comportamento de descaso de Simão para com D. Evarista, particularmente nas páginas 51 e 55-56, onde seu descontentamento e melancolia são revelados. Esses fragmentos ilustram a solidão em que ela vive, sentindo-se ignorada pelo marido, cuja presença física não compensa sua ausência emocional.
"Mal dormia e mal comia, e, mesmo comendo, era como se trabalhasse, pois ora interrogava um texto antigo, ora ruminava uma questão, passando de uma ponta à outra do jantar sem dirigir uma única palavra a D. Evarista" (
"A ilustre dama, ao final de dois meses, se sentiu a mais infeliz das mulheres, caindo em profunda melancolia. Não ousava reclamar-se ao marido, por respeito, mas definhava visivelmente"(
Além disso, nas páginas 27 e 28, Bacamarte agradece a Deus por D. Evarista não ser atraente o suficiente para desviar sua atenção da ciência. Na página 61, ele tenta compensar sua ausência com superficialidades:
"D. Evarista era mal composta de feições, o que ele agradecia, pois não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação do consorte"(
"Não há remédio para as dores da alma desta senhora de chiquinha; eu já lhe dei o Rio de Janeiro e ela consola-se"(
Ao longo da obra, percebemos a dificuldade de Bacamarte em se comunicar. Seus diálogos são, na verdade, monólogos disfarçados, onde ele expõe apenas seu raciocínio sem qualquer abertura para absorver o que o outro sente ou pensa. Essa falta de conexão reflete uma crítica atemporal: ainda hoje, a saúde mental, apesar de ser mais abertamente discutida, encontra na comunicação e na falta de empatia um dos maiores desafios.
4. Considerações Finais
O desfecho de O Alienistarevela
"Simão Bacamarte curvou a cabeça, alegre e triste ao mesmo tempo, e mais alegre que triste. Recolheu-se à Casa Verde. Tentaram dissuadi-lo, mas em vão. A questão era científica. Ele afirmava reunir em si teoria e prática. Fechada a porta, entregue-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem que morreu dali há dezassete meses, sem ter feito nada. Alguns afirmam que o único louco de Itaguaí era ele" (p. 250).
5. Bibliografia
Assis, Machado de. Ó Alienista . Edição Autofágica, Ilustrações de Candido Portinari; análises de Rogério Fernandes, Luísa Clasen e Daniela Lima. Texto de Guilherme Antonini via Facebook.
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