Banho

 


Querido diário, sou eu, a Luna. Hoje foi mais um dia comum na vida de uma caloura. Ainda estou me acostumando com tantas novidades e, desde que entrei na universidade, só hoje consegui tempo para escrever novamente. Desde que deixei o sertão para cursar enfermagem aqui no Rio, minha vida se tornou um turbilhão de emoções e acontecimentos.

 Texto de: Juan Pablo

Arranjei um emprego, fiz amigos, segurei um coração partido, fui a festas e, finalmente, dei meu primeiro beijo. Pode parecer estranho para uma garota de quase 20 anos, mas eu nunca tinha beijado antes. Os meninos da minha cidade só queriam curtição... E, sejamos honestos, quem iria querer beijar uma garota de óculos fundo de garrafa e aparelho esquisito? Felizmente, o tempo foi generoso comigo.

Um ano e meio vivendo aqui, e já aprendi tanto.

"Luna, Luna, já vou!" grita Vick, batendo na porta.

Vick pergunta: "Luna, você vai na festa da Camila na sexta? Chegou o convite no grupo."

Luna responde: "Está muito em cima e você sabe que nas festas da Camila todo mundo vai bem vestido e só tem gente de nariz empinado. Nem roupa e nem ânimo para aturar essa gente eu tenho."

Vick insiste: "Vamos, todo mundo vai estar lá e eu te empresto uma roupa minha. Amiga é para isso."

Luna cede: "Está bem, eu vou!"

No dia da festa, o telefone toca.

Era Vick, perguntando se Luna estava pronta. "Oi! Só vou tomar um banho e já vou, me espera na portaria," responde Luna.

Ela termina o banho e começa a se arrumar. Ao se olhar no espelho, exclama: "Nossa! Nem parece eu!" Desce as escadas para encontrar Vick, mas o síndico avisa que a amiga já saiu e deixou recado para encontrá-la na festa.

Com medo de se atrasar, Luna chama um Uber. Ao chegar na festa, fica impressionada com o que vê: DJ, piscina enorme, comida à vontade e muita gente elegante. Enquanto tenta encontrar Vick, esbarra numa garçonete que derruba vinho em seu vestido. A garçonete pede desculpas e orienta Luna a ir ao segundo andar, onde ficam os banheiros. Ao procurar o banheiro, entra no lugar errado e se depara com um homem com uma bebida e um celular nas mãos. Nervosa, pede desculpas, mas ele corre em sua direção, a empurra para dentro do quarto, dá um tapa que a faz bater a cabeça na cabeceira da cama, começando a abusá-la. Luna grita, mas a música alta abafa seus pedidos de socorro.

Mônica, uma colega de sala, passando pelo corredor, ouve os gritos e abre a porta. O homem, transtornado, corre atrás de Mônica, que consegue chamar o segurança. O agressor é contido antes de fugir.Vick pergunta: "Luna, está tudo bem?" e Luna responde: "Não, não está tudo bem. Eu estou com dor, e não é só dor física; minha alma dói e eu me sinto suja."

Vick e Mônica a ajudam a levantar e a levam à delegacia para prestar depoimento e denunciar o agressor. Descobrem que ele era procurado há anos, conseguindo entrar na festa disfarçado de garçom. Chamado Moisés Pereira, conhecido como “Monza”, tinha um histórico extenso de crimes, incluindo estupro, assassinato e tráfico de drogas. Ele é preso, e Luna é levada para casa por suas amigas.

Ao chegar, Luna começa a chorar ainda mais. Suas amigas a ajudam a tirar a roupa e a levam para o banho. Suas lágrimas se misturam com a água do chuveiro, enquanto o sangue da dor de um estupro desce pelo ralo. A vergonha e o medo de reviver aquilo não a abandonam; não importa quantos banhos tomasse, a água não limparia a sujeira da alma.

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