O que vou fazer agora?


Eram oito horas da manhã quando um homem apareceu à porta da delegacia e abriu o portão. Márcia já estava esperando em frente desde às sete. Estava aflita, pois durante a madrugada, enquanto dava plantão no hospital, recebeu a notícia de que seu filho fora preso mais uma vez. Só que, dessa vez era diferente. Ele já era maior de idade, estava com dezenove anos, e agora não seria igual às outras vezes em que a polícia o levava para a delegacia e ligava para ela ir buscá-lo.

Por: Carlos Brito

Márcia era técnica em enfermagem, dividindo seu tempo entre dois hospitais. Morava com seus dois filhos, Bruna, de vinte e dois anos, e Pedro Henrique, este último sempre trazendo preocupações. Desde a infância, Pedro Henrique se envolvia em problemas, e a cada nova confusão, o coração de Márcia se apertava. Ela nutria a esperança de que, ao crescer, ele tomasse um rumo diferente, mas a realidade só parecia piorar.

Naquela manhã, Márcia mal conseguia conter as lágrimas enquanto aguardava ansiosamente por notícias concretas sobre a situação do filho. Medo e ansiedade a consumiam, e ela refletia sobre o que poderia ter feito de diferente para ajudar Pedro Henrique. Sabia que a realidade agora era dura e que ele enfrentaria as consequências de seus atos como adulto.

Os minutos passavam devagar, e Márcia sentia cada segundo como uma eternidade. O trabalho no hospital exigia força e resiliência, mas naquela manhã, ela se sentia frágil e desamparada. A esperança de uma mãe nunca morre, mas naquele momento, ela estava profundamente abalada.

Márcia entrou e viu um policial em pé, conversando com uma funcionária. Aproximou-se e perguntou, com a voz trêmula, o que havia acontecido com seu filho. A funcionária informou que, na noite anterior, seu filho, junto com outros dois jovens, fora preso portando uma grande quantidade de drogas ilícitas.

— E agora, o que fazer? — A voz de Márcia saiu embargada.

O policial olhou para ela com um semblante sério e disse:

— Devido à gravidade do crime, o jovem está à disposição da justiça. O juiz irá decidir qual será o destino dele.

Márcia sentiu o chão sumir sob seus pés. A realidade era implacável e esmagadora. Ela tentou se recompor, mas a angústia a dominava. Perguntas e medos rodopiavam em sua mente. Como ele chegou a esse ponto? O que poderia ter feito para evitar isso? O que aconteceria com Pedro Henrique agora?

— Tem algo que eu possa fazer? — ela perguntou, tentando manter a calma.

— No momento, o melhor que a senhora pode fazer é contratar um advogado para defender seu filho — aconselhou o policial. — O processo judicial vai determinar o que acontecerá a partir daqui.

Márcia perguntou se poderia ver seu filho. O policial assentiu e pediu que ela o acompanhasse. Márcia seguiu o homem, adentrando o prédio que parecia um labirinto. Eles caminharam por cerca de cinco minutos até chegarem em frente a uma porta de ferro preta. Quando a porta foi aberta, a mulher se deparou com uma cena que parecia saída de um filme de terror: era outro prédio com várias celas divididas por grades, e o cheiro era indescritível.

Mais à frente, Márcia avistou Pedro Henrique. Ele estava segurando as grades, com um olhar perdido. Outros homens estavam sentados numa cela ao lado, enquanto três mulheres, em outra cela, falavam entre si. Uma delas queria saber onde estava o filho que havia ficado com uma vizinha no dia em que ela fora presa.

Aquela cena foi demais para Márcia. Ela desabou em lágrimas. Pegou a mão do filho entre as grades e, com a voz embargada, disse:

— Por que, filho? Por quê? Nunca te faltou nada, eu sempre te dei tudo.

As lágrimas corriam pelo rosto de Márcia, misturando-se à dor que sentia no peito. Pedro Henrique olhou para a mãe com olhos cheios de arrependimento e tristeza. Márcia, sentindo-se impotente, segurava a mão do filho, tentando encontrar respostas para perguntas que pareciam não ter explicação.

— Mãe, eu... eu não sei — respondeu Pedro Henrique, com a voz trêmula. — Fiz escolhas erradas, me envolvi com as pessoas erradas. Me desculpa.

Márcia o olhou, enxergando o menino que ainda existia dentro daquele jovem homem. Apesar de tudo, ela sentia que precisava acreditar na possibilidade de uma mudança, de uma segunda chance.

— Vamos encontrar uma saída, filho. Vou fazer tudo o que puder para te ajudar — disse ela, com determinação na voz, mesmo que o desespero ainda estivesse presente em seu coração.

Márcia agradeceu e saiu da delegacia com o coração pesado. Sabia que enfrentar aquele desafio exigiria todas as suas forças. Precisava encontrar um advogado e, mais do que nunca, estar presente para apoiar seu filho, mesmo que a situação parecesse desesperadora. Ela voltou para casa, determinada a lutar por Pedro Henrique, rezando para que ele encontrasse um caminho para a redenção.

No mesmo dia, Márcia procurou uma advogada altamente recomendada. Logo descobriu que se defender de um crime custa caro, mas não se importou. Pegou parte de suas economias e deu de entrada para a advogada começar a defesa. No dia seguinte, a profissional retornou com notícias preocupantes.

— Márcia, seu filho está sendo acusado de tráfico de drogas. A prisão em flagrante foi convertida em prisão preventiva, o que significa que ele ficará preso por tempo indeterminado até o julgamento. Infelizmente, ele será transferido para um presídio em breve.

Márcia sentiu um peso ainda maior no coração. A advogada continuou:

— Vou trabalhar para conseguir um habeas corpus, mas devo ser honesta: casos de tráfico de drogas são complicados. Vamos precisar de todas as evidências possíveis para argumentar a favor de Pedro Henrique.

Nos dias que se seguiram, Márcia se dividiu entre os plantões nos hospitais e as visitas à advogada, buscando informações e preparando-se para a batalha judicial. Cada dia era uma luta contra a desesperança e o medo do futuro.

A viagem até o presídio era longa, pois o lugar ficava em outra cidade, distante mais de cinquenta quilômetros. As visitas eram às sextas-feiras, e ela precisava chegar cedo. Então, toda semana, começava sua penitência: saía de casa às cinco da manhã e chegava ao destino às seis e meia. Durante o trajeto, refletia sobre como a vida de seus filhos tomara rumos tão diferentes.

Bruna sempre foi uma jovem dedicada. Desde pequena, era aplicada nos estudos e tinha grandes sonhos. Agora, estava no segundo ano da faculdade de enfermagem, seguindo um caminho promissor. Márcia tinha orgulho da filha e das conquistas que já alcançara. Contudo, o orgulho que sentia por Bruna contrastava dolorosamente com a preocupação constante por Pedro Henrique.

Pedro Henrique, ao contrário da irmã, sempre procurava más companhias. Desde pequeno, envolvia-se em problemas e não se aplicava na escola. As escolhas erradas o levaram para um caminho de delinquência, culminando em sua prisão. No banco do ônibus, Márcia se perguntava repetidamente: "Será que a culpa é minha por ter trabalhado demais? Será que falhei como mãe?"

Essas perguntas a atormentavam. Tinha que sustentar os dois filhos sozinha, já que o pai de Bruna não assumiu a paternidade e foi embora. Fazia anos que não tinha notícias dele. Quanto ao pai de Pedro, ele era um homem perdido, incapaz de oferecer qualquer apoio. A responsabilidade de criar e prover para os filhos sempre recaiu inteiramente sobre ela.

Enquanto o ônibus avançava pela estrada, Márcia se perdia em pensamentos e memórias. Recordava as noites insones, os esforços incessantes para garantir que nada faltasse a Bruna e Pedro. "Eu fiz o melhor que pude," repetia para si mesma, buscando algum consolo. O peso da culpa era grande, mas ela tentava se confortar: "Pelo menos ele está onde eu posso ver. Pior seria se estivesse morto, como muitos outros."

Esses momentos de reflexão durante a viagem eram tanto dolorosos quanto necessários. Eram instantes de enfrentamento com a realidade, de busca por respostas e, acima de tudo, de tentativa de encontrar paz em meio ao caos. Ela sabia que, ao chegar ao presídio, precisaria ser forte por Pedro, mostrar-lhe que, apesar de tudo, ele ainda tinha uma mãe que se importava e que estava disposta a enfrentar qualquer adversidade por ele. E assim, com o coração pesado, mas determinado, ela seguia em frente, semana após semana, visitando o filho, mantendo viva a esperança de um futuro melhor.

Durante a espera para começar a visita, Márcia começou a perceber que a grande maioria das visitantes eram mulheres, mães e esposas de presos. Havia pessoas de todas as idades, desde jovens que iam visitar os maridos até idosas que iam ver os netos. Perdida em meio às suas observações, uma mulher de cerca de cinquenta anos se aproximou e perguntou:

— É filho ou marido?

— É meu filho — respondeu Márcia.

A mulher era bem falante.

— Ah, eu estou aqui vendo meu filho e meu marido. Sabe, eu me chamo Sandra. Prazer, Márcia. Eu vi você de lá, parecia meio perdida.

— Pode ser — respondeu Márcia.

— O que aconteceu com seu filho? — perguntou Sandra.

— Ele foi preso com drogas.

— Ah, isso é ruim. Eu tenho três filhos e, sabe, tudo ia bem, mas aí meu marido morreu em um acidente. Tive que trabalhar, deixando os meninos em casa. O mais velho começou a vender drogas e o mais novo também. O do meio sempre foi diferente, trabalhador. Aí, quando o mais novo estava preso aqui, uns homens invadiram a casa do meu filho mais velho e, infelizmente, o mataram. Agora só resta vir ver meu filhinho. Sabe, até arrumei um namorado aqui.

Márcia ficou surpresa.

— Aqui?

— Claro! Se quiser, arranjo um para você — ofereceu Sandra.

— Não, obrigado — recusou Márcia.

Em seguida, Márcia viu uma jovem que parecia ter a mesma idade de Pedro Henrique. Aproximando-se dela, descobriu que a jovem havia conhecido um rapaz pela internet. Uma amiga tinha dado a rede social dela para um outro detento que estava preso com o namorado dela. Os dois conversaram por um tempo e agora ela veio visitá-lo, sem a família saber.


Márcia perguntou:

— Mas isso é a vida que você quer levar?

A menina ficou pensativa e disse:

— Sei lá, só vou ver onde vai dar.

Márcia então olhou para aquelas dezenas de mulheres. Algumas histórias eram iguais à sua, outras ainda mais trágicas ou igualmente difíceis. Ela pensava em Pedro Henrique e repetia para si mesma: "Ele vai sair e vai ser diferente." Essa era sua esperança, a chama que mantinha acesa para seguir em frente, acreditando que ele poderia mudar e encontrar um caminho melhor.

Márcia perguntou: "Mas isso é a vida que você quer levar?"

A jovem refletiu por um momento antes de responder: "Sei lá, só vou ver onde vai dar."

Márcia então olhou para aquelas dezenas de mulheres. Algumas histórias eram semelhantes à sua, outras ainda mais trágicas ou igualmente difíceis. Ela pensava em Pedro Henrique e repetia para si mesma: "Ele vai sair e vai ser diferente." Essa era sua esperança, a chama que mantinha acesa para seguir em frente, visitando o filho semana após semana, acreditando que ele poderia mudar e encontrar um caminho melhor.

Então chegou o dia da audiência. A juíza ouviu os depoimentos dos policiais que efetuaram a prisão. A promotoria exigia a pena máxima de doze anos pelos crimes de tráfico e associação para o tráfico. No entanto, os argumentos da advogada de defesa foram considerados, resultando em uma sentença menos severa. Pedro Henrique ficaria preso por quatro anos, com a possibilidade de sair em dois, dependendo de seu comportamento.

Ao ouvir a sentença, Pedro Henrique foi levado de volta ao presídio. Márcia e Bruna, aos prantos, assistiram ao jovem ser colocado no fundo da viatura. A dor e a tristeza eram palpáveis, mas Márcia sabia que precisava ser forte por ele.

Durante os anos que se seguiram, Márcia continuou a visitar o filho religiosamente. Essas visitas semanais se tornaram uma rotina sagrada, um fio de esperança que ela mantinha firme. Durante esse tempo, desenvolveu amizades com várias mulheres que estavam na mesma situação que ela. Compartilhavam histórias, dores e esperanças, encontrando força umas nas outras para seguir adiante.

O tempo passou e, finalmente, chegou o dia da liberdade de Pedro. A ansiedade e a esperança misturavam-se no coração de Márcia enquanto ela aguardava na frente do presídio. Quando Pedro apareceu, mais magro e com um olhar cansado, mas ainda assim seu filho, ela correu para abraçá-lo.

Pedro estava diferente. Seu olhar era sombrio, ele não falava muito e raramente saía de casa. Márcia percebeu que ele passava muito tempo no celular. Quando Pedro anunciou que havia arrumado um emprego como entregador em uma loja de bebidas, Márcia ficou feliz. Os meses passaram e Pedro parecia realmente ter mudado: ele ia do trabalho para casa e não ficava mais nas ruas nem andava com as más companhias.

A formatura de Bruna se aproximava e ela estava radiante. Um dia, ela pediu ao irmão que a levasse para tirar algumas fotos em um estúdio no centro da cidade. Pedro concordou, e os dois partiram juntos de moto. Depois das fotos, ao voltarem para casa, Bruna desceu da moto para abrir a garagem. Foi nesse momento que dois homens em uma moto preta apareceram e dispararam várias vezes contra Pedro.

Bruna entrou em desespero. Os homens fugiram rapidamente. Ela se aproximou do irmão, que, ferido, disse com dificuldade: "Cuida da nossa mãe... Me desculpa..." Em questão de segundos, a respiração de Pedro parou e o brilho de seus olhos se apagou. Ele ficou ali, mais um corpo jogado na rua.

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