O fio da vida


Por: Juan Pablo

Gabriela Rocha, uma mulher trans de 24 anos, trilha o caminho da Medicina em uma renomada instituição privada paulistana, conquistando uma bolsa integral após inúmeras tentativas. Proveniente de Quixadá, no sertão cearense, Gabriela enfrentou durante sua infância e adolescência o escárnio dos colegas devido à sua singularidade, vista como anormalidade naquela época. Em um episódio marcante, foi vítima de uma agressão com sopa quente, desencadeando zombarias e risadas. A dor daquela humilhação a levou a questionar aos céus o motivo de tanto desprezo.

A busca por um recomeço a trouxe para São Paulo, onde se encantou com a magnitude da metrópole e sua efervescente diversidade cultural. Contudo, o preconceito se fez presente novamente em sua nova escola, onde foi alvo de chacotas por seu marcante sotaque nordestino. Em meio à adversidade, manteve-se resiliente, ancorada na fé e no apoio incondicional de seus pais.

A perda do pai foi um golpe devastador, mas mesmo abalada, Gabriela persistiu em seus estudos e trabalho, determinada a concluir o ensino médio noturno. Um trágico incidente a fez vítima de uma violenta agressão, reforçando seu desejo de se tornar médica para auxiliar aqueles que sofrem violências similares. O medo a acompanhou, levando-a a carregar consigo uma navalha como símbolo de proteção.

Sua vulnerabilidade foi percebida por uma professora atenta, que lhe ofereceu amparo e encorajamento. Inspirada por essa aliança, Gabriela decidiu enfrentar o ENEM e o vestibular com determinação. Após um primeiro resultado insatisfatório para seus próprios padrões, ela redobrou seus esforços e finalmente alcançou a aprovação desejada.

No terceiro período da faculdade, Gabriela abraçou sua verdadeira identidade com coragem e orgulho. Libertando-se das amarras sociais, ela se revelou ao mundo como a mulher que sempre foi. Agora, como futura doutora Gabriela Rocha, ela segue tecendo os fios de sua vida com tenacidade e esperança.

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